
Quando falamos da sociedade açucareira no Brasil Colônia, sempre nos detemos na figura central, representante máximo da elite escravocrata colonial nordestina, o Senhor de Engenho. Servir-se da descrição minuciosa de Gilberto Freyre em Casa Grande e senzala é estar bem próximo daquilo que eram eles:
Como não se exercitavam, ficavam com “mãos de mulher, pés de meninos”, numa vida “ociosa, mas alagada de preocupações sexuais, a vida do senhor de engenho tornou-se uma vida de rede”, conta Freyre. “Rede parada, com senhor descansando, dormindo, cochilando. Rede andando, com o senhor em viagem ou a passeio debaixo de tapete ou cortinas. Rede rangendo, com o senhor copulando dentro dela. Da rede não precisava afastar-se o escravocrata para dar as suas ordens aos negros; mandar escrever suas cartas pelo caixeiro ou capelão; jogar gamão com algum parente ou compadre. De rede viajavam quase todos – sem ânimo para montar a cavalo: deixando-se tirar de dentro de casa como geléia por uma colher. Depois do almoço, ou do jantar, era na rede que eles faziam longamente o quilo – palitando os dentes, fumando charuto, cuspindo no chão, arrotando alto, peidando, deixando-se abanar, agradar e catar piolhos por mulequinhas, coçando os pés ou a genitália; uns coçando-se por vícios; outros por doença venérea ou da pele”
Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala, 43ª. edição, Editora Record, 2001.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que o "conceito" de elite no Brasil, parte dessa figura, o senhor de engenho, como seu representante ancestral mais antigo. Um parasita, dentro de um sistema opressor e excludente, como não poderia deixar de ser uma sociedade escravocrata.
Qual a relação podemos estabelecer entre aquelas elites parasitas, que serviam-se e esforçaram-se para manter o modo de produção escravo no Brasil durante mais de 350 anos, e as elites do Brasil do século XXI?
Pense nisso.
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Como não se exercitavam, ficavam com “mãos de mulher, pés de meninos”, numa vida “ociosa, mas alagada de preocupações sexuais, a vida do senhor de engenho tornou-se uma vida de rede”, conta Freyre. “Rede parada, com senhor descansando, dormindo, cochilando. Rede andando, com o senhor em viagem ou a passeio debaixo de tapete ou cortinas. Rede rangendo, com o senhor copulando dentro dela. Da rede não precisava afastar-se o escravocrata para dar as suas ordens aos negros; mandar escrever suas cartas pelo caixeiro ou capelão; jogar gamão com algum parente ou compadre. De rede viajavam quase todos – sem ânimo para montar a cavalo: deixando-se tirar de dentro de casa como geléia por uma colher. Depois do almoço, ou do jantar, era na rede que eles faziam longamente o quilo – palitando os dentes, fumando charuto, cuspindo no chão, arrotando alto, peidando, deixando-se abanar, agradar e catar piolhos por mulequinhas, coçando os pés ou a genitália; uns coçando-se por vícios; outros por doença venérea ou da pele”
Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala, 43ª. edição, Editora Record, 2001.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que o "conceito" de elite no Brasil, parte dessa figura, o senhor de engenho, como seu representante ancestral mais antigo. Um parasita, dentro de um sistema opressor e excludente, como não poderia deixar de ser uma sociedade escravocrata.
Qual a relação podemos estabelecer entre aquelas elites parasitas, que serviam-se e esforçaram-se para manter o modo de produção escravo no Brasil durante mais de 350 anos, e as elites do Brasil do século XXI?
Pense nisso.
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Um comentário:
Texto relata o que, muitas vezes, ainda acontece no Brasil atual! Muito bom!
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